PRESENTE DE DUENDE





DURANTE ANOS DANNA sonhara com aquele homem.
Nem saberia dizer ao certo como ou por que, mas sempre sonhara com ele... Que gênio mágico toca com sua varinha encantada o ser humano pelo qual outro ser humano se apaixona? Haveria uma explicação racional para o fato de você – entre tantos seres semelhantes, mais ou menos com as mesmas características físicas, psicológicas, sociais – escolher um, determinado? Por que justamente aquele homem (ou mulher) destacando-se na multidão? Se ele ou ela poderiam facilmente ser confundidos com outros...? Se não possuem nada que os dintingua dos demais – como uma beleza extraordinária, ou uns olhos magníficos... ou uma carreira brilhante graças à uma personalidade carismática...? O quê exatamente tinha ele...?
Danna estava sentindo-se muito sozinha naquela tarde, véspera de Natal, apesar de sua casa estar cheia de pessoas – amigos e parentes. Apesar de sua recente separação do marido, Ulisses, a família fizera questão de visitá-la e resolveram que passariam em sua casa a noite de Natal, talvez para animá-la e dar-lhe alguma forma de apoio emocional.
Ela, entretanto, não estava triste... não exatamente. Apenas um pouco melancólica, como se sua energia toda tivesse sido drenada e a exaustão física se refletisse em sua mente e até em sua aparência.
Léia, sua prima, insistira em levá-la ao cabeleireiro, para dar um “up” no visual, como ela dissera... fora uma maneira delicada de ajudá-la a livrar-se daquele cabelo que mais lembrava uma vassoura, sem corte e forma definida.
Ela observara-se ao espelho: Olhos fundos, pálida, ombros caídos, um ar de desleixo e abatimento. Sabia que era preciso melhorar a aparência, pois talvez... talvez... naquela noite... ela o visse. Alexandre.
Desde que o conhecera, há cerca de quatro anos atrás, sentira-se estranhamente atraída por ele. Uma volúpia no ar... um perfume... um sorriso encabulado... uma troca de olhares... um toque de mãos... outro sorriso. Uma espécie de magnetismo, uma aura dourada e azul em torno daquele rosto claro, daqueles olhos azuis, daquele sorriso que tinha um quê de infantil.
Nisso resumiu-se o encantamento que a dominara desde então. E que crescera, enraizara-se, tornara-se uma paixão secreta.
Alexandre era primo em segundo grau de Ulisses, e considerado quase um irmão mais novo pelo seu marido. Frequentava-lhes a casa, em finais de semana, quando comparecia com o restante da família: seus pais e irmãos.
Dentre todos aqueles rostos, somente o de Alexandre fulgurava para Danna, como se uma luz interior se refletisse em sua pele e uma doce e aveludada magia rodopiasse entre eles, transmitindo-lhes sem palavras o sentimento e o desejo secreto...
O casamento com Ulisses era uma história muito diferente. Ulisses era um homem prático, empreendedor, forte, pouco dado a romantismo. Inicialmente, houvera entendimento entre eles... mas o tempo e a rotina acabara por separá-los. E talvez algo mais... Danna culpava-se pelo fim do casamento, pois fora a única causadora.
Pensara muito em Ulisses nos últimos dias, quando ele fora embora, após uma briga violenta, em que ela o acusara de preteri-la pelos negócios. Não, ele dissera, ela sabia que os negócios – ele era o diretor de uma próspera agência de propaganda em Curitiba – foram apenas o pretexto para ela. E que toda e qualquer atitude dele em relação a trabalho e negócios visavam única e exclusivamente melhorar a vida de ambos...
Ela sorriu para Léia, que arrumava a árvore de Natal na sala. A prima falou, retribuindo-lhe o sorriso:
― Vai vestir-se? Querida, aquele vestido vermelho rebordado com miçangas vai deixá-la deslumbrante... - piscou-lhe um olho, com ar maroto.
― E por que eu ia...
― Ah, meu bem. Não nasci ontem. Sei muito bem que... o Natal é um dia especial... e que coisas maravilhosas... e até inacreditáveis acontecem nesse dia... Pense bem. Capriche no visual.
Ela mirou na prima um olhar confuso. Será que Léia... saberia de alguma coisa? Mas tinha absoluta certeza que não! Jamais contara nada, e fora um furtivo beijo trocado com Alexandre, uma vez – uma única vez – eles jamais tinham tido qualquer relacionamento.
Agora, enquanto observava Léia, notava nela alguma coisa estranha... estaria vendo coisas...? A pele da prima parecia muito corada e clara, como a pele de uma européia, e Léia era morena clara, de pele cor de canela. Havia ainda um brilho traquinas nos olhos dela, e o sorriso... Era brincalhão, cheio de uma energia que parecia contagiá-la. Léia era sua amiga, mas nunca fora muito de brincadeiras, ostentando sempre um ar sério, mesmo quando faziam comentários jocosos sobre qualquer coisa.
Ela deu de ombros. Tudo parecia cheio de brilho hoje... talvez fosse a “magia no Natal”, ela riu-se consigo mesma. Até mesmo a fantasia de “Mamãe Noel” que Léia usava parecera-lhe extravagante e fora do “padrão Léia”...
Subiu as escadas para seu quarto, onde procurou por seu vestido. Vermelho, a cor do Natal. A cor da paixão...
Ela segurou o vestido diante de si, ao espelho, e sorriu aprovando. A cor vibrante parecia irradiar força e destacar o leve rubor de suas faces antes pálidas, o negro ônix de seus olhos e infundir um brilho de cobre aos cabelos castanhos e longos.
Vou ficar bonita para... para... para o meu amor.
Apesar da alegria, uma pequena pontada de tristeza toldou-lhe o semblante.

***
Ele estava lá, como ela havia planejado... Alexandre, juntamente com sua mãe, seu pai e os irmãos... Ele viera. Ela desceu as escadas, para recepcionar os convidados, e ficou grata pelo ar embevecido de todos os familiares diante dela, e os elogios à sua decoração de Natal.
― Devo tudo à Léia, claro – ela anunciava, olhando para a prima, incansável em arrumar os presentes debaixo do pinheirinho, trazer os arranjos de flores para a mesa, os pratos, o belíssimo peru dourado e rodeado de fatias de laranjas e maçãs.
Sentiu-se grata à prima por todo aquele trabalho.
Então, sempre conversando com um e outro, ela dirigiu-se até um canto da sala, onde estava Alexandre, parado, com um pequeno embrulho arrematado por fita de cetim.
― É para você, Danna.
― Obrigada... Alex.
Os olhos dele mergulharam nos seus, em um afago silencioso, macio e erótico... ela sentiu que as pernas ficaram trêmulas.
― Não vai abrir, Danna? – Ele perguntou.
Quando ela meneou a cabeça e começou a desfazer o laço, Léia puxou-a de leve pelo braço, dando um sorriso de desculpas para Alex.
― Você precisa fazer o seu pedido de Natal – anunciou Léia, com o mesmo rosto corado, olhos reluzentes, que Danna notara antes.
― Como? O quê...?
― Seu pedido de Natal, Danna! – Léia disse, sempre sorrindo. – Esqueceu-se que Papai Noel pode realizar algum desejo seu hoje...?
Danna sorriu da brincadeira da prima, e para livrar-se logo dela, assentiu.
― Claro, vou fazer...
― Tem que ser agora...
Léia olhou para o relógio, que marcava quinze minutos para a meia-noite.
― Ora, que bobagem, Léia... Você hoje encarnou mesmo o espírito da coisa, heim...? – Danna brincou, lançando um olhar na direção de Alex.
― Danna, por favor. É a sua chance! – Tornou Léia, com uma voz estranha e rouca.
Danna fechou os olhos, e pensou: Minha prima está meio maluca hoje... bem, mas não custa brincar um pouco... que seja... desejo encontrar hoje meu verdadeiro amor. E que seja eterno.
― Pronto!
Ela sorriu para Léia, que soltou-lhe o braço e saiu alegremente, em direção à mesa da ceia.
Mas quando voltou-se para Alex, não o viu mais no lugar onde o tinha deixado. Olhou desanimada para o pacote de presente em suas mãos, e depois abriu-o, com um movimento nos ombros. Era um belo estojo de madeira artesanal, com a tampa esculpida em motivos florais e forrado com um veludo cor de creme. Lindo, mas sem nenhum significado especial... bem, o quê ela queria?
Ela e Alexandre mal tinham conversado, nos últimos dias, mal tinham se visto... nem sequer tinham conversado sobre... sobre a situação atual dela.
Procurou por Alex, entre os convidados, e não o viu. Então, ouviu um ruído às costas e percebeu a porta que dava para os jardins da casa fechando-se.
Suspirou. Colocou o presente sobre um aparador e foi na direção da porta que se fechara. E como se um filme começasse a se desenrolar dentro de sua cabeça, ela reviu tudo... desde o começo. Lembrou-se, não de Alex, mas de Ulisses.
Lembrou-se de como haviam se conhecido... o namoro... os passeios nos dias quentes de primavera, as mãos dadas, as trocas dos primeiros beijos...e depois... E depois a felicidade de um casamento que parecera perfeito... que fora perfeito... por que... por que tudo acabara?
Ela sentiu de repente toda a onda de tristeza que, por dias a fio, tentara manter estancada dentro de si... Mas a onda minou sua resistência, desceu com a fúria selvagem de uma tempestade, explodindo dentro dela... Ela segurou o trinco da porta com mãos trêmulas, sem saber ao certo se a abria, se a deixava fechada, se voltava para seu quarto...
E quando sentiu que as lágrimas inundavam-lhe os olhos, ela abriu a porta e saiu para o ar fresco da noite.
Seu vulto esguio, elegante, era uma aparição espectral e rubra dentro da noite morna. Começou a andar sem rumo pelo jardim, respirando o ar perfumado pelas flores dos grandes pés de flamboyants que ladeavam os caminhos entre os canteiros.
Deveria procurar Alexandre? Mas para quê, perguntava uma vozinha maldosa em sua cabeça. Durante anos ela esperara por ele... e hoje chegara a hora... Mas será mesmo que era por Alexandre que esperara? Ele fora, sem dúvida, o homem que povoara sua imaginação, desde que o conhecera... Seu rosto bonito e infantil de olhos claros, cabelos finos e louros.
― Mas fale a verdade, Danna. O que mais tem Alexandre de especial, além de um belo rosto imberbe?
A voz agora não vinha de sua cabeça, mas de alguém que, subitamente, esgueirava-se entre as sombras dos flamboyants, uma criatura pequena, de voz fina e esganiçada, e que um instante atrás ela julgou ser Léia. Então ela firmou os olhos, e viu: Era a figurinha que se passara por Léia, mas não era a prima na verdade. Era uma mulherzinha de rosto sorridente, muito corado, cabelos anelados e brancos e olhinhos vivos.
― Quem é você? – Ela deu um passo atrás, sem reconhecer a velhinha de olhos brilhantes.
― Não é tão importante agora saber quem sou... Digamos que sou um duende de Natal – a velhinha desatou a rir.
― Isso não tem graça!
― Danna, pense... O que tem Alexandre de especial para que você esteja tão apaixonada por ele...? - Insistiu a mulher.
Danna ficou por instantes meio tonta... tinha tomado apenas um copo de champanhe, não era possível que estivesse bêbada. Mesmo assim, sentia-se tomada por uma estranha sensação de irrealidade, e quando respondeu à criatura, era como se falasse consigo mesma, ou estivesse sonhando:
― Alexandre...? Bom, nada... Ele é bonito... Embora, eu deva confessar, Ulisses também seja...
Ela relembrou, com uma profunda dor que lhe esmigalhava o coração, o rosto moreno e anguloso de Ulisses, seus grandes olhos castanho-esverdeados, os cabelos escuros e sedosos... E como ela sentia-se orgulhosa por ter sido escolhida por ele. E o sentimento de humilhação quando percebeu que a vida profissional ativa do marido, suas viagens constantes, a carreira de sucesso, sua escalada social, o estavam tirando dela...
― Por quê você deixou de amá-lo, Danna? – O pequeno duende feminino olhava para ela, como se lesse seus pensamentos.
― Ulisses...? Sim, eu acho que deixei de amá-lo... – E uma súbita certeza cresceu dentro dela, engolfando-a como uma onda e abalando seus alicerces emocionais. – Não! Eu nunca deixei de amá-lo... Nunca... Para mim ele sempre foi o mais belo dos homens...
Ela soluçou baixinho.
― E ele também tinha outras qualidades, minha querida? – Perguntou a mulherzinha, com uma voz doce.
― Sim... Sempre foi educado... e generoso.
Ela relembrou de quanto Ulisses a mimara, quando percebera os ciúmes dela, o quanto ele tentara desfazer as más interpretações que ela fazia de suas viagens, acusando-o injustamente de ter outras mulheres. Ele sempre tentara apaziguá-la, agradando-a, fazendo-lhe carinhos, comprando-lhe presentes, saindo com ela sempre que possível. Mas ela sempre estivera cega a tudo isso. Diante de seus olhos e de seu ciúme doentio, ele fazia tudo aquilo para compensá-la ou aliviar um pouco o peso da culpa que sentia. Ela achava que ele tinha que ter outras mulheres, ou que não podia mais amá-la... afinal, um homem em ascensão profissional, bonito, elegantes, rico, não poderia amar uma mulher medíocre como ela... Alguém que nada fazia além de gastar seu dinheiro e badalar pelo mundo, sem uma profissão decente, sem um diploma universitário, uma carreira digna.
― Então, minha querida... O que separou vocês foi seu ciúme, estou certa?
― Sim, foi... ele talvez nunca tenha me enganado... não sei...
― Não, querida. Lembra-se de como você contratou todos aqueles detetives para seguirem-no...?
Sim, ela se lembrava. Contratara detetives, e embora eles jamais tenham trazido prova alguma da culpa de Ulisses, ainda assim ela continuou desconfiada...
― Eu nunca acreditei na sinceridade de Ulisses... sempre fui muito mesquinha. Tornei-me tão irascível que ele não suportou-me mais... brigávamos constantemente... e tudo por que eu provocava...
― E foi assim que você criou para si mesma a ilusão de amar Alexandre, o primo jovem e mais tímido de Ulisses... certo? – Perguntou ainda a mulherzinha.
― Sim... Alexandre nunca teve uma carreira muito brilhante. Sempre foi um homem mais reservado, tímido, pacato. É bonito, mas creio que... só isso. E a idéia de apaixonar-me por Alex talvez tenha sido por isso... ele jamais me causaria tantos ciúmes, jamais me deixaria tão insegura...
― Ulisses nunca deixou de amá-la, querida. Só você mesma. Você deixou de amar-se, quando pôs em dúvida o amor de Ulisses por você. Quando acreditou ser uma mulher sem graça e medíocre. Quando imaginou-se feia e deselegante. Olhe para si mesma agora. Vai enxergar a mulher bonita que é, a mulher charmosa, inteligente e graciosa que Ulisses amou e ainda ama...
De repente, uma brisa mornou soprou pelo jardim, fazendo com que as folhas das árvores ressoassem como mil sininhos, as flores esvoaçando por todo lado, como pequenos flocos de neve. Danna piscou, atordoada... estivera conversando... com quem...?
Ela olhou à sua frente, e não viu mais a mulherzinha de cabelos brancos que se passara por Léia. Onde estaria a tal criatura? O que acontecera? Quem era?
Estou definitivamente louca, pensou Danna. Passados os feriados, irei consultar um médico... agora dei para conversar sozinha e ter amigos imaginários, pensou ela, sentindo um frio no estômago.
Notou um movimento atrás de si e virou-se, pronta para levar outro susto. Dessa vez, seria o Coelhinho da Páscoa? Ou a Mula-sem-Cabeça?
― Feliz Natal, Danna.
O homem à sua frente sorriu-lhe, com seus dentes fortes, o rosto moreno com uma barba incipiente, os olhos esverdeados brilhando de emoção.
― Ulisses!
Era outra alucinação?
― Eu... eu fiquei pensando... muito em nós, Danna – ele disse. – E cheguei à conclusão que não gostaria de passar sozinho o Natal. Queria passá-lo com você.
Ela olhou em torno de si, um pouco atordoada.
―Comigo...? Mas nós...
― Eu sei, eu sei... mas Danna. Pense um pouco. Tudo o que falamos aquele dia, um ao outro... as coisas de que você me acusou... doeram muito. Mas eu posso entender seus sentimentos de ciúme, coloquei-me em seu lugar. Eu também ficaria enciumado se você viajasse tanto, passasse tanto tempo longe de mim. Eu gostaria de recomeçar tudo, Danna.
Danna estava surpresa, e quando ia responder, a mulherzinha dos cabelos brancos passou por eles, dando uma piscadela.
Ulisses olhou para ela, e franziu a testa.
― Hã... quem é a figura...?
― Uma... vizinha... um pouco excêntrica, mas uma boa pessoa...
Ele também a viu, pensou Danna. Não era uma alucinação.
Ulisses sorriu. E continuou, tomando as mãos dela entre as suas:
― E então, meu amor? Vamos tentar novamente...?
―Ulisses... você sabe que sempre amei você. Mas a vida que levávamos... não, não suportarei continuar daquele jeito. Você sempre viajando... eu me sentindo a última das mulheres... não...
― Meu amor, você sempre foi a primeira e a única para mim – ele disse, puxando-a para o peito largo. Danna sentiu novamente a fragrância masculina que ele usava, com um arrepio de excitação tomando-lhe o corpo inteiro. – Mas eu pensei muito... E se foi minha profissão que se tornou a barreira entre nós, isso pode ser mudado.
― Como assim? – Ela perguntou, sem acreditar no que ouvia.
― Eu tenho um capital guardado, você sabe... chegou a hora de abrir minha própria empresa. Nossa empresa, na verdade... e quero você comigo. Minha sócia e diretora, o que acha? Você estará ao meu lado em toda parte...
Ele riu, e ela também, sem acreditar no que ouvia.
― Sua sócia... você quer dizer que... eu trabalharei dentro da empresa... ao seu lado?
― Exatamente. Você sempre teve tino para os negócios. E uma grande veia artística. Ninguém melhor para ajudar-me a administrar uma empresa de marketing, principalmente no que se refere às artes gráficas.
Danna mal podia acreditar no que ouvia. Era mágica. Pura mágica. Pensou: amanhã vou acordar e perceber que tudo não passou de sonho...
Mas então abraçou com mais força o seu marido, sentiu o perfume dele, e depois o roçar de sua barba em seu rosto, o toque de suas mãos, o beijo profundo, a língua dele enroscando-se na sua... e a excitação... e sentiu que era tudo real.

Mais tarde, tornou a reunir-se aos convidados para a ceia, ao lado de Ulisses. Notou Alexandre também, que a olhava com o mesmo olhar terno, porém sombreado por algum tipo de mágoa ou desapontamento. Lamentou por isso, lamentou por tê-lo feito imaginar coisas, mas ao mesmo tempo sabia que ele iria esquecer, e logo encontraria uma mulher, alguém que o faria tão feliz quanto ela estava sendo naquele momento.
Mais tarde, quando o último convidado deixava a casa, e a noite de Natal esvaía-se nas sombras da noite, ela e Ulisses viram-na novamente: Um vulto pequenino e alegre, andando ligeira em direção ao portal e acenando para eles.
― A sua vizinha engraçada está indo embora - disse Ulisses.
― Preciso conversar um minutinho com ela...
Danna correu até a mulherzinha, antes que ela saísse.
― Espere! Quem é você, afinal? – Danna perguntou, de cenho franzido.
― Você não acredita nem em Papai Noel... Como vai acreditar na Mamãe Noel...? - Disse ela, dando uma risadinha e uma piscadela e saindo rápida através do portão.